quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Prazer e responsabilidade nas relações sexuais



     Hoje os adolescentes iniciam a vida sexual muito cedo, sem entender bem o porquê. Às vezes por problemas familiares, às vezes por descoberta do próprio corpo, para descobrir o outro. Mas isto vem acontecento de uma forma muito precoce. Eles ainda não têm a maturidade para discernir que o ato sexual é um ato que deve ser amoroso, que deve trazer felicidade para a vida do jovem e por isso deve ser encarado com responsabilidade com o próprio corpo e com o corpo do(a) parceiro(a).

     Em relação à educação sexual, existem sérias distorções. Alguns jovens, principalmente mulheres, carregam uma concepção negativa do sexo. Aprendemos que aquilo é negativo, sujo, não pode ser realizado... Já o homem é incentivado desde cedo a ter relações sexuais, a se masturbar, a observar o corpo. Aí encontra-se a primeira dificuldade no ato sexual. Às vezes a mulher sente um pouquinho de dor, não sabe exatamente como e onde sentir prazer.
     É preciso conversar com os jovens que isso é um processo natural e que, aos poucos, eles vão se encontrando, como casal. Por isso é importante a intimidade. O que está acontecendo, hoje, é que as pessoas nem se conhecem e já têm a primeira relação sexual. É importante conviver, conhecer o aspecto psicológico, a personalidade do outro para enfrentar o primeiro momento que, muitas vezes, poderá ser difícil para um deles. Às vezes um parceiro tem experiência e o outro não tem.
     Quando começa a namorar, o jovem se depara com um mundo que quer vender o prazer. Existem os sexshops, as formas de você ter prazer... Só que não vinculam isso ao conhecimento de si próprio, ao conhecimento do corpo e ao amor, que é fundamental para ter uma relação sexual. Muitos jovens estão adotando o conhecimento, o namorar, o se conhecer, o conversar, o abraçar, o beijar, a troca de carinho para depois ter a primeira relação sexual. Acredito que seja o mais aconselhável para acontecer com maturidade, porque a gente não ama o que não conhece. A gente só conhece uma pessoa depois de conviver alguns anos com ela. E a partir daí brota o sentimento de amor.
     Então, o jovem que posterga a primeira relação sexual é porque quer conhecer o outro, quer adotar este sentimento de amor, que é o mais importante na nossa vida. A gente tem tantos religiosos que adotam a castidade e vivem bem e felizes porque amam e praticam a caridade. O sexo não é o ponto mais importante num relacionamento a dois; ele é um complemento que deve ser sadio e encarado com maturidade.

Conhecer para cuidar

     Mesmo hoje os jovens, principalmente a partir dos 11-12 anos, quando estão começando a apresentar transformações do corpo, vêem o sexo como tabu. É difícil para o jovem se aceitar como um homossexual, por exemplo, ou querer conversar sobre relação sexual, sobre o que está acontecendo com o organismo dele, por que está ficando mais excitado em certo momento da vida. Ele, muitas vezes, não sabe que é uma fase de grande produção de hormônios.
     Os profissionais da Educação ensinam Geografia, História, Matemática, Língua Portuguesa etc., mas o jovem precisa também ser orientado sobre sexualidade, quando não tem isso em casa. E na escola isso é importante.
     Deveria ser ensinado na escola que cada um se conheça. A menina precisa saber o seu ciclo fisiológico, o que acontece quando ovula... Sabendo isso, ela saberá adotar medidas, entenderá que no momento da ovulação ela fica mais excitada, pois é o período fértil. A educação sexual ainda está sendo pouco adotada na escola e também nas famílias o assunto pode e deve ser mais discutido.


Luciana Virginia Tempesta Múhe,
ginecologista e obstetra, Brasília, DF.
Endereço eletrônico: lux.tempesta@uol.com.br
Artigo publicado na edição nº 381, jornal Mundo Jovem, outubro de 2007, página 17.

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